Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Trata-se de um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades.

por Dra Fátima de Pádua Safatle Neves

O que é autismo?

Trata-se de um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades.

O autismo é mais prevalente no sexo masculino, e suas manifestações podem ser notadas no primeiro ano de vida, porém com frequência só é suspeitado após os 2-3 anos de idade.

Como surgiu o termo “autismo”?

Este termo foi utilizado pela primeira vez pelo pesquisador Eugene Bleuler, em 1908, para indicar uma perda de contato do indivíduo com a realidade, por meio do voltar-se ao eu, a “si”. Daí o termo “auto”. Neste momento os sinais eram relacionados aos aspectos da esquizofrenia em adultos.

No ano de 1943, o psiquiatra infantil e diretor do serviço de psiquiatria infantil do Hospital Johns Hopkins, Leo Kanner, após acompanhar a rotina de 11 crianças que mostraram desde o nascimento uma acentuada falta de interesse por outras pessoas, mas um importante e altamente incomum foco num ambiente inanimado, publicou o artigo “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo”. Ele então toma emprestado a nomenclatura de Bleuler e, pela primeira vez, fez uso do termo “autismo infantil”. Os sinais clínicos não eram idênticos aos descritos pelo pesquisador suíço e, ao contrário da esquizofrenia, os pacientes de Kanner pareciam ter autismo desde o nascimento.

Em 1949, Kanner passou a chamá-lo de “Autismo Infantil Precoce”, descrevendo como uma dificuldade profunda no contato com outras pessoas, desejo obsessivo de preservar as coisas e as situações, ligação aos objetos, presença de uma fisionomia inteligente e alterações de linguagem. Até o final da década de 70 o autismo foi considerado uma forma de esquizofrenia infantil, posteriormente tendo sido demonstrado se tratarem de patologias com inícios, cursos e prognósticos completamente distintos.

Sinais do autismo em crianças

No geral, uma criança com transtorno do espectro autista pode apresentar os seguintes sinais:

  • Dificuldade para interagir socialmente, como manter o contato visual, identificar expressões faciais e compreender gestos, expressar as próprias emoções e fazer amigos;
  • Dificuldade na comunicação, caracterizado por uso repetitivo da linguagem (ecolalia) e dificuldade para iniciar e manter um diálogo;
  • Alterações comportamentais, como manias, apego excessivo a rotinas, ações repetitivas, interesse intenso em coisas específicas e dificuldade de imaginação;
  • Alterações sensoriais como seletividade alimentar (não ingerir determinadas texturas ou cores de alimentos), andar nas pontas dos pés, tapar os ouvidos quando exposta a ruídos que não seriam incômodos para outras crianças da idade.

Atenção: Nenhum destes sinais/ sintomas isoladamente implica no diagnóstico de autismo, devendo serem relatados ao seu médico para correta investigação etiológica.

A identificação de atrasos no desenvolvimento, para o diagnóstico oportuno de TEA, encaminhamento para intervenções comportamentais e apoio educacional na idade mais precoce possível, levam a melhores resultados a longo prazo. Sendo assim, a busca por orientação de um profissional qualificado deve ser prioritária quando houver qualquer suspeita.

Existe uma medicação para Autismo?

Não há uma medicação específica para o autismo, mas sintomas específicos que perturbem a funcionalidade da vida diária, por exemplo alterações de sono, agressividade, agitação, entre outros, podem ser medicados.

Sempre devemos ter em mente que estas manifestações (comportamentos disruptivos como agressividade, agitação) geralmente ocorrem por diversos motivos, como dificuldade em comunicar algo que gostaria, alguma dor, algum incômodo sensorial (ruídos, texturas, estímulos visuais intensos), entre outros. Nestes momentos é importante primeiro tentar compreender o motivo dos comportamentos que estamos observando, para então propor estratégias que possam ser efetivas. A terapia baseada em ABA (Análise do Comportamento Aplicada) auxilia pais e terapeutas na prevenção de crises, estímulo de comportamentos adequados e extinção dos comportamentos inadequados.

O uso de medicações como Risperidona podem ajudar a controlar sintomas de agitação psicomotora,  quando somente a abordagem comportamental ou ambiental não é suficiente. A Risperidona age no cérebro bloqueando os receptores da dopamina e serotonina. Os efeitos colaterais da Risperidona são menos frequentes e intensos que os antipsicóticos de primeira geração, com uma fácil titulação de dose e, quando bem indicado, pode proporcionar ótimos resultados.

Estudos com canabidiol para autismo têm sido publicados demonstrando a melhora do sono, ansiedade e interação social.

Como é feito o diagnósticos de Autismo

O diagnóstico de TEA é essencialmente clínico, ou seja, não existe nenhum “exame” para diagnóstico de autismo. Geralmente o diagnóstico de autismo é suspeitado após a família, escola ou pediatra notarem alguma alteração no desenvolvimento, comunicação/ interação social, interesses restritos ou estereotipias. A seletividade alimentar é uma característica muito presente, e reflete as alterações sensoriais que podem ocorrer nos pacientes com TEA.

É importante ressaltar que o tratamento/reabilitação precoce deve ser preconizado em qualquer caso de suspeita de autismo ou desenvolvimento atípico da criança, independentemente de confirmação diagnóstica.

Abaixo seguem os critérios diagnósticos para autismo do DSM-5 (Última edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais)Transtorno do Espectro Autista (TEA) – Critérios Diagnósticos do Autismo

Critérios Diagnósticos do Autismo – A

A - Déficits persistentes na comunicação social e interação social:

1. Déficits na reciprocidade sócio emocional, variando, por exemplo, da abordagem social anormal e do fracasso das conversas normais de ida e volta; reduzir a partilha de interesses, emoções ou afetos; ao fracasso em iniciar ou responder interações sociais.

2. Déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados ​​para interação social, variando, por exemplo, da comunicação verbal e não verbal mal integrada; anormalidades no contato visual e na linguagem corporal ou déficits na compreensão e no uso de gestos; a uma total falta de expressões faciais e comunicação não verbal.

3. Déficits no desenvolvimento, na manutenção e na compreensão de relacionamentos, variando, por exemplo, de dificuldades de ajuste de comportamento para atender a vários contextos sociais; às dificuldades em compartilhar brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos; à ausência de interesse pelos pares.

Critérios Diagnósticos do Autismo – B

B - Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, manifestados por pelo menos dois dos seguintes:

1. Movimentos motores estereotipados ou repetitivos, uso de objetos ou fala (por exemplo, estereotipias motoras simples, alinhamento de brinquedos ou objetos móveis, ecolalia, frases idiossincráticas).

2. Insistência na mesmice, adesão inflexível a rotinas ou padrões ritualizados ou comportamento verbal não verbal (por exemplo, aflição extrema com pequenas mudanças, dificuldades com transições, padrões rígidos de pensamento, rituais de saudação, necessidade de seguir o mesmo caminho ou comer todos os dias).

3. Altamente restrito, interesses fixos que são anormais em intensidade ou foco (por exemplo, forte apego ou preocupação a objetos incomuns, interesse excessivamente circunscrito ou perseverativo).

4. Hiper ou hiporreatividade à entrada sensorial ou interesses incomuns em aspectos sensoriais do ambiente (por exemplo, aparente indiferença à dor/temperatura, resposta adversa aos sons ou texturas específicas, cheirar ou tocar objetos excessivamente, fascinação visual com luzes ou movimentos).

Critérios Diagnósticos do Autismo – C, D e E

C - Os sintomas devem estar presentes no período inicial do desenvolvimento (mas podem não se manifestar completamente até que as demandas sociais excedam as capacidades limitadas ou possam ser mascaradas pelas estratégias aprendidas na vida adulta).

D - Os sintomas causam prejuízos clinicamente significativos em áreas ou sociais, ou ocupacionais ou outras áreas importantes do funcionamento atual.

E - Esses distúrbios não são melhor explicados pela deficiência intelectual (distúrbio intelectual do desenvolvimento) ou pelo atraso global no desenvolvimento. Deficiência intelectual e transtorno do espectro autista frequentemente ocorrem simultaneamente;

Fonte: AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais – DSM-5. 5. ed. Washington, 2013.

Esperamos que este conteúdo tenha esclarecido as principais dúvidas sobre o Autismo. Se notar algum comportamento que leve a suspeita deste diagnóstico, procure um neurologista de sua confiança para que ele possa avaliar o caso e indicar a intervenção precoce. Ela é primordial para um melhor desfecho para estes pacientes.

Qualquer dúvida entre em contato conosco.